Terras Altas

Terras Altas

“Há séculos estamos lutando por liberdade. E agora ela está a nosso alcance. E a única coisa que precisamos fazer para obtê-la... é praticar a paciência. Não é uma de nossas grandes virtudes.” — James MacDuff

Terras Altas

As Terras Altas, em sua aparente insignificância, desempenham há séculos um papel fundamental no cenário mundial. Embora não sejam poderosas, politicamente falando, nem absurdamente ricas em recursos, sua lealdade à rainha Elaine e a capacidade de desestabilizar o governo dela fazem das Terras Altas fatores-chave na tentativa de Avalon de se tornar uma grande potência. Por causa disso, os inimigos de Avalon se voltaram para as Terras Altas ao procurar um ponto fraco nos Reinos Unidos. Mas os terraltinos — liderados por seu rei, James MacDuff II — têm ideias próprias e transformaram sua posição numa poderosa arma política.


O País

As Terras Altas são um país úmido e nevoento, onde predominam as colinas rochosas e a chuva constante. Percorrer as Terras Altas é difícil, na melhor das hipóteses. As estradas rurais estão mal conservadas, e bandidos e animais selvagens são bem comuns. A maioria dos viajantes prefere seguir a cavalo, ao passo que a nobreza recorre a carruagens e outros veículos sobre rodas. São poucos os grandes rios nas Terras Altas e, por isso, as viagens fluviais se limitam aos pescadores e a outras pessoas que ganham a vida nos cursos d’água.

As condições atmosféricas nas Terras Altas não são nada agradáveis. A chuva e a neblina tomam o país a maior parte do ano, e a neve cobre os campos durante uma boa parte dos meses de inverno. Mas são poucos os extremos de temperatura, e as Terras Altas raras vezes são afligidas por geadas violentas ou ondas de calor. Como no caso de Avalon, o tempo atmosférico nas Terras Altas se mantém impassível, sombrio e praticamente idêntico, entra e sai mês.

O Povo

Os terraltinos costumam ser mais altos que o teano médio. Como acontece com seus primos inismoritas, as cabeleiras ruivas são mais famosas que sua aparência típica: cabelos pretos e olhos azuis. Os altiterrenses passam quase todo o seu tempo ao ar livre, mas, como o céu geralmente fica encoberto, têm tons de pele nem muito pálidos, nem muito bronzeados.

Mulheres Terraltinas

À primeira vista, as mulheres são cidadãs de segunda classe nas Terras Altas. Não podem ter propriedades, nem manter cargos políticos ou se apresentar em público em pé de igualdade com os homens. Nenhuma mulher tem cadeira cativa no Parlamento nacional, e a ideia de uma chefe de clã é inaudita.

Na prática, porém, as coisas são bem diferentes. A maioria dos lares nas Terras Altas é dirigida pela esposa ou pela mulher mais velha, e boa parte dos negócios corriqueiros jamais seria completada sem elas. Os assuntos financeiros também cabem ao belo sexo, e bancos e outras instituições geralmente endereçam as contas à “dona da casa”. Os nobres costumam acatar o conselho das esposas, e não os de outras pessoas, e apesar de nenhuma delas deter um cargo eletivo, muitas são respeitadas como líderes informais em suas comunidades. O exército nacional admite mulheres como soldados, mas sua participação é minúscula em comparação com a presença masculina, e entre os heróis mais famosos do país há alguns do sexo feminino. Uma das corsárias mais infames da rainha Elaine, Bonnie McGee, a Sanguinária, é originária das Terras Altas.

Vida dos Nobres

Com a aproximação dos dois reinos, a nobreza altiterrense começou o lento processo de se integrar a seus pares avalonianos. Boa parte dos aristocratas das Terras Altas provém de grandes propriedades agrícolas, onde predominam áreas cultivadas e civilizadas e charnecas agrestes e indomadas. As crianças nobres são educadas em casa por tutores ou governantas, mas algumas emigram para estudar numa instituição adequada em Avalon. Apesar de adotarem o aparato sofisticado da alta cultura e desfrutarem das sutilezas refinadas da caça, do debate filosófico etc., muitos nobres altiterrenses evitam essas práticas passivas, preferindo mergulhar de cabeça na política nacional. O bem-estar da Nação é mais importante para muitos deles, e a nobreza geralmente faz o possível para melhorar a vida de seus subordinados ou para promover seus próprios planos, em vez de matar o tempo com divertimentos estúpidos. Seus iguais em outros países os consideram esdrúxulos e ligeiramente retrógrados, como seria de esperar de uma Nação isolada.

Vida dos Camponeses

Para os camponeses das Terras Altas, a vida é dura, mas o surgimento de uma classe média vem aliviando uma pouco as coisas. A maioria do campesinato trabalha nas fazendas da nobreza ou de novos-ricos proprietários de terras. Com o florescimento da educação e a chegada dos progressos da ciência à ilha, a vida dos camponeses começou a melhorar. É cada vez maior o número deles que deixa os campos para buscar a sorte nos centros urbanos, e uma classe de mercadores e lojistas vem se estabelecendo aos poucos. Em sua maioria, os camponeses das Terras Altas são reservados, respeitam seus superiores e tentam aproveitar ao máximo as oportunidades que a vida lhes oferece. Apesar de tudo, eles podem se mostrar bem animados: adoram as cantigas e a cerveja e conduzem suas reuniões sociais com uma turbulenta joie de vivre.

Nomes

Os altiterrenses têm dois nomes: um primeiro nome e um patronímico ou nome de clã. O nome de clã geralmente vem do fundador do grupo — seja um homem ou uma mulher —, e não de um membro da família (e é por isso que os nomes dos altiterrenses são mais consistentes que os nomes inismoritas, que são mais pessoais). No caso dos homens, o nome de clã é precedido por “Mac”, ao passo que, no caso das mulheres, o prefixo é “Nic”. Por exemplo, Angus MacBride e Beileag NicBride pertencem ao mesmo clã.


Vestuário

As roupas dos habitantes espelham as necessidades práticas do país e foram concebidas para manter as pessoas aquecidas e confortáveis, e não para a ostentação. Os homens tradicionalmente vestem kilts, feitos de lã e adornados com os tartãs e as cores de sua família ou clã ancestral. Os kilts formam uma faixa que é usada por cima do ombro e, liberada do alfinete que a prende, pode cobrir o corpo todo, como uma espécie de manta. Os nobres evitam as rapieiras e outras armas, preferindo as enormes claymores de outrora, um espetáculo intimidador nos salões do Parlamento. O resto do figurino é parecido com o dos nobres avalonianos: coletes com botões e sapatos afivelados. As mulheres gostam de vestidos e de saias plissadas, mas a moda nas Terras Altas é muito menos ornamental que outras do continente. Como no caso dos homens, as roupas femininas são feitas de tecidos resistentes e capazes de suportar o frio das Terras Altas. Elas raramente usam chapéus, preferindo fitas ou enfeites florais para os cabelos, um resquício do passado pagão do país.

Etiqueta

A honestidade é muito importante entre os altiterrenses . Opor-se a alguém não é um pecado, desde que seja uma oposição declarada com toda a franqueza, e o conceito de “uma luta boa e limpa” é o que predomina na maioria das discussões políticas. Raramente se fazem promessas, mas, quando feitos, os votos são sagrados: um highlander considera seu juramento a essência de seu bom nome e nunca falta conscientemente com a palavra dada. Essa honestidade, porém, raras vezes se estende além dos Reinos de Avalon. Os estrangeiros podem ser enganados impunemente, e costumam ser mesmo, deixando mortificados os dignitários visitantes. Não foram poucos os políticos estrangeiros levados a acreditar no voto solene de um highlander... apenas para vê-lo faltar com a palavra no pior momento possível.

Outras preocupações de etiqueta são semelhantes às de Avalon. Sempre se tira o chapéu para uma dama e presta-se o devido respeito às pessoas de status social mais elevado. A afeição nacional pela honestidade acabou fazendo recrudescer as normas da boa educação, bem mais que em outros lugares, mas os altiterrenses ainda esperam um mínimo de cortesia de seus semelhantes e não toleram grosserias sem uma boa explicação. Também chegam às vias de fato com mais facilidade do que habitantes de outros países: entre os nobres, consideram-se os duelos maneiras apropriadas de encerrar disputas.

Costumes

A identidade de clã é muito importante para os altiterrenses . Sua noção de nacionalidade e lealdade a Avalon impede os clãs de exercer muita influência política fora das Terras Altas, mas eles passaram a dominar o cenário sociocultural. Em público, os altiterrenses preferem usar os tartãs clânicos ancestrais, e as danças e cantigas populares brotam das alianças regionais de tempos imemoriais. As canções são de natureza semelhante — tão parecidas que um estrangeiro que percorra as Terras Altas teria grande dificuldade para distingui-las —, mas os habitantes conseguem diferenciá-las facilmente. Muitos plebeus separam condados e feudos uns dos outros de acordo com os tipos de cantigas entoados nas tavernas ou segundo os passos específicos de uma dança da festa de primavera.

Há que se perguntar como os terraltinos conseguem ostentar suas filiações sem descambar para as antigas rivalidades e reacender a guerra civil. Para os terraltinos, há uma diferença entre sua identidade cultural e o orgulho nacional. O fenômeno lembra os torcedores do futebol americano universitário de hoje em dia. É possível vestir com todo o orgulho as cores de um clã e cantar um hino de família a plenos pulmões, mas essa associação não suprime a noção de unidade nacional nem a sensação de pertencer a uma fraternidade maior que inclui outros habitantes da ilha... Excluída, obviamente, a ocasional briga de bar. Seiscentos anos de submisão a Montaigne e Avalon limitaram as rivalidades clânicas exclusivamente à arena das palavras.

Alimentação

A alimentação nas Terras Altas é parecida com o tempo atmosférico: pesada, sem graça e sempre igual. A carne ovina é o principal produto do país, e os pratos típicos são feitos de carne e miúdos de ovelha, além de costeletas de cordeiro. O cultivo de hortaliças se baseia em tubérculos e, portanto, a maioria das refeições inclui batatas (trazidas do Novo Mundo), cenouras e coisas do gênero. Cozinhar os alimentos em água fervente é o método preferido, pois conserva a comida durante mais tempo e é algo fácil de fazer nos campos agrestes. Muitos terraltinos preferem guisados e outros pratos combinados, que são simples e dão um pouco de variedade à culinária. Desprezam as receitas extravagantes de outros países por considerarem-nas um desperdício. “Vira tudo uma coisa só dentro do bucho” é um ditado comum entre os terraltinos.

Aldeias e Cidadezinhas
Kirkwall

Kirkwall é uma das fortificações mais antigas ainda de pé nas Terras Altas. Erigida por ocasião da invasão vestenesa muitos séculos atrás, resistiu a um cerco após outro, promovidos tanto por altiterrenses quanto por agressores estrangeiros. Hoje é o baluarte do grande rei e a embaixada oficial das Terras Altas. Ali fica a corte de MacDuff, e os clãs se reúnem em seu salão uma vez por ano. Durante essa semana, a população de Kirkwall triplica em tamanho e uma feira imensa surge em volta das muralhas.

Connickmoor

Pátria do clã MacBride, Connickmoor também abriga o Movimento Separatista das Terras Altas. Os sonhos de independência acalentados por MacBride foram sufocados pelo apoio inabalável do povo à aliança de Elaine e MacDuff. Até o momento, as manobras políticas de MacDuff fizeram a fortuna das Terras Altas, mas MacBride é paciente.

Política

Historicamente, o cenário político nas Terras Altas é dominado pelos clãs, que continuaram usando de todos os meios para galgar posições e obter a supremacia mesmo depois da chegada dos montenhos. Isso vem mudando aos poucos com a união do país a Avalon, e a lealdade aos clãs vem cedendo lugar aos partidos políticos mais abrangentes.

O Parlamento das Terras Altas é formado por todos os chefes dos grandes clãs, que herdam suas cadeiras. Os limites políticos vão sendo traçados por antigas rivalidades, à medida que a velha escola da sangria política ganha nova forma nas discussões e nos debates sobre programas de ação. Os parlamentares são supervisionados pelo grande rei, descendente direto de Robert I, que monitora todas as assembleias e faz cumprir os éditos da casa. Ele dá forma às políticas nacionais e muitas vezes controla a pauta do parlamento. Sendo o líder da Nação, o grande rei pode, tecnicamente, agir sem precisar da aprovação do Parlamento, mas, ao fazer isso, corre o risco de receber uma reprimenda pública e de se ver incapaz de fazer valer seus decretos. Existe um acordo tácito entre o rei e o parlamento, segundo o qual ele respeita as decisões finais dos líderes de clã e, em troca, obtém a aprovação das matérias que apresenta. Como acontece em muitas nações teanas, esse equilíbrio se altera à medida que um ou outro lado ganha ou perde força.

Atualmente, o Parlamento se divide entre os unionistas, que defendem a tríplice coroa da rainha Elaine, e os separatistas, que querem uma Nação totalmente independente. Os unionistas são a maioria, mas os separatistas estão ganhando terreno aos poucos e podem se revelar perigosos num futuro próximo. O poderoso e carismático James MacDuff, um unionista fervoroso, tem mantido os separatistas sob controle desde que se tornou grande rei. James acredita que as Terras Altas podem obter grande força — e ainda manter sua autonomia — sob a bandeira dos Reinos Unidos. A independência os deixaria fracos e privados da proteção dos corsários de Avalon, abrindo as portas para uma invasão montenha ou castilhana. Ele reluta em jogar fora a recém-descoberta liberdade de seu país em troca de um conceito obscuro de independência.

Relações Exteriores

Para o resto de Théah, as Terras Altas, da mesma maneira que Inismore, não passa de um estado vassalo do país de Elaine. No entanto, os altiterrenses mantiveram suas relações diplomáticas com Vestenmennavenjar, contatos que possibilitam a entrada discreta de dinheiro e prosperidade nas Terras Altas de tempos em tempos.